É uma exposição para todos os públicos, diz o comissário da mesma, o que à partida nos diz que a restante comunidade artística vai achar comercial e que os populares vão achar extravagante. Para bem dos nossos pecados a seguir à partida vem outra coisa qualquer não obrigatoriamente igual à que vinha antes, e há virtude para todos os extremos nesta retrospectiva da artista nacional mais internacional neste momento (os Silence Four não contam). Já não é preciso acrescentar ao nome descritivos como “a dos crochés”, “a das coisas gigantes”, “a do presépio sado-masoquista”, porque ele já vale por si próprio. E uma eternidade mais tarde, quando a nave de Noé partir para Alpha Centauri e a selva e os dinossauros cobrirem de novo as terras, artefactos de uma cultura anciã vão mostrar que outrora se soube ser português sem ser a cantar o fado. Bananita
Lutar contra a doença através da Arte. Haverá causa mais inspiradora?Manuel Cargaleiro, Júlio Pomar, João Feijó e Eduardo Nery, são apenas quatro dos vinte artistas que quiserem ser solidários através daquilo que de mais bonito têm para oferecer ao público: a sua obra plástica. A Liga Portuguesa Contra a SIDA celebra vinte anos de uma luta nobre e corajosa que merece e deve continuar a contar com o apoio de todos nós. Chega de enfiar a cabeça na areia como se fôssemos avestruzes achando que o problema é sempre do vizinho do lado. Esta é uma causa de todos nós. Há arte para todos os gostos em forma de pintura, fotografia, escultura, joalharia e cerâmica. Escusado será dizer que as vendas das obras revertem a favor da LPCS. Já fizeram a vossa boa acção do ano? Pois está na hora de começar. Daniela Catulo
O nome podia ter sido dado pela minha mãe. Segundo a minha sábia mãe, não há pessoas feias (“há tipos de beleza indecifráveis”), não existem homens que dão sono (“são interesses improváveis”), eu não sofro de mau feitio (“tenho mau acordar”). A Kunsthalle é, ela própria, uma figura de estilo. É que, etimologicamente, “kunsthalle” remete-nos para instituições de arte de larga escala, com orçamentos estratosféricos e exposições estelares. Daí o eufemismo: a Kunsthalle Lissabon é um espaço pequeno, de estreitos recursos. Mas é vivaço. Vivaça é também a exposição de Carla Filipe que hoje inaugura, que explora o espaço cósmico entre o conceito a traduzir e a palavra traduzida. Vale a pena espreitar. Nem que seja para apanhar o momento em que um alemão colossal e de sandálias n.º 47 pergunta, abespinhado, onde raio é mesmo a Kunsthalle? Inês Alvim