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Cultura de Borla

A Cultura que não tem preço.

Arquivo Municipal de Lisboa, Fotográfico - novas exposições

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Lisboa uma grande surpresa

Arthur Júlio Machado
José Candido d'Assumpção e Souza

 

Inauguração: 22 de setembro, 18h30
Exposição: 23 de setembro a 23 de janeiro 2017

 

Na segunda metade do séc. XIX a fotografia fixa e documenta a memória da cidade, através de vistas, ruas, praças e monumentos.

O Fundo Antigo do Arquivo Municipal de Lisboa | Fotográfico de que é representativa a exposição lisboa uma grande surpresa reúne essa intenção numa abordagem sistematizada e desenvolvida ao longo de dez anos (1898-1908).

Os autores, anónimos durante cerca de um século apesar das diversas pesquisas realizadas, são atualmente conhecidos e apresentados nesta exposição. Trata-se de José Candido d’Assumpção e Souza (1856-1923) e de Arthur Júlio Machado (1867-1947), ambos desenhadores na Câmara Municipal de Lisboa, cuja proposta para fotografar os prédios da cidade foi encontrada num requerimento de 20 de Julho de 1898, no decurso de um trabalho de investigação, que permitiu aferir a autoria dos negativos e compreender o contexto de produção.

Às provas da época já existentes no Arquivo Fotográfico, veio juntar-se outro volumoso conjunto, proveniente do Museu de Lisboa, provas coladas em fichas mecanográficas, que associam as imagens à informação do local, ao nome do proprietário e ao valor matricial do prédio.

Há uma intenção clara de inventariar, mapear, cartografar e fotografar no levantamento prédio a prédio, assim como noutros registos a decorrer na cidade da época, discutidos e apoiados pela Câmara, acompanhando as tendências europeias de modernização da cidade.

Mas o foco da objetiva, não se fica pelo mapeamento urbano. Os vendedores, os transeuntes e as crianças acrescentam outras abordagens que trazem até nós uma cidade viva, onde se podem identificar as ruas, os monumentos e as praças, mas também os ofícios, o comércio, a cultura, a vivência da cidade.

A exposição lisboa uma grande surpresa é acompanhada por um catálogo onde se apresenta parte deste fundo documental e que será lançado durante o período da exposição.

 

Rua da Palma, 246 | Tel. 218 844 060 | segunda a sábado, das 10h às 19h

http://arquivomunicipal.cm-lisboa.pt | https://www.facebook.com/arquivo.mun.lisboa

 

Inauguração: 22 de setembro, 18h30
Exposição: 23 de setembro a 23 de janeiro 2017

 


José Luís Neto tem vindo a construir uma obra absolutamente singular, e que de certa forma desmente o que sempre nos habituámos a pensar como fotografia e como atividade própria do fotógrafo. Ele não trabalha com uma máquina eleita (muda de aparelhos e chega a alterá-los consoante a especificidade dos projetos), nunca quis encontrar o seu formato de fotografia – as suas imagens vão do infinitamente pequeno à fotografia de grande dimensão –, sempre se afastou de imperativos temáticos. E, no entanto, é muito fácil identificar a sua obra – ainda que defini-la seja muito complicado. As suas fotografias nunca se resumem a um corte na realidade (José Luís expulsa frequentemente qualquer figura do “mundo real”), e ao isolamento do momento que um qualquer “olhar de fotógrafo” decida privilegiar – até porque elas colocam justamente em causa esta ideia, do “olhar do fotógrafo”: muitas resultam de experiências que prescindem dos seus olhos, como variações nas aberturas do diafragma, ou a exposição de um orifício a intensidades luminosas diversas.

Uma das singularidades da obra de José Luís Neto radica exatamente nestas experiências, que obedecem no fundo ao estabelecimento de um programa. Um exemplo: ao modificar a própria máquina fotográfica, fazendo-a disparar de determinada forma, ele obriga-nos a repensar a atividade do fotógrafo, que de repente se desvia do ato de olhar, selecionar e disparar através de uma objetiva […]

O fotógrafo partiu de um núcleo fotográfico do Arquivo Municipal de Lisboa – Fotográfico, conhecido como Fundo Antigo, que inclui um vasto conjunto de fotografias […] São, na sua maioria, vistas de bairros históricos de Lisboa, registadas entre finais do século XIX e inícios do XX (entre 1898 e 1908), todas com enquadramentos muito parecidos.

Constituem, no seu conjunto, um inventário exaustivo e rigoroso, quase científico, de certa forma. Ao fotógrafo, com toda a certeza o mesmo, não interessava o pitoresco, ou o registo das atividades desenroladas na rua, embora a presença de pessoas seja uma quase constante nas imagens e, embora inconscientemente, o fotógrafo deva ter fixado o único registo fotográfico daquela gente – a viver em freguesias populares, num tempo em que a fotografia não estava democratizada, e de que seguramente não existem retratos.

Não há, é claro, um único enquadramento que tenha sido decidido pelo posicionamento de personagens nas ruas, pelo que as pessoas surgem muitas vezes desfocadas, de contornos diluídos (só o parado ficaria nítido), muito afastadas e no limite do desaparecimento – umas manchas, apenas. São justamente estas manchas, constituídas por pessoas muitas vezes alheias ao trabalho do fotógrafo e captadas sem a intenção do fotógrafo, que José Luís Neto decidiu isolar […] – aquelas manchas, isoladas e ampliadas, vêm atribuir farrapos de narrativa às limpas imagens originais, retirando-lhes, através de uma estética do detalhe, o aparentemente exclusivo carácter documental.


Ricardo Nicolau

(texto apresentado no âmbito da LisboaPhoto 2005, adaptado e revisto segundo o acordo ortográfico)

 

 

José Luís Neto

Estudou Fotografia no Ar.Co e no Royal College of Art (Londres), com uma Bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian.

Expõe regularmente em Portugal e no estrangeiro desde o início da década de 90, participando também em bienais, feiras de arte e encontros de fotografia. O seu trabalho foi apresentado no Museu de Serralves, Museu Coleção Berardo, Culturgest, Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado, Museu Nacional de Arte Antiga, Fundação Calouste Gulbenkian, Hayward Gallery (Londres), Foto Colectania (Barcelona), Musée de l’Elysée (Lausanne), Círculo de Bellas Artes (Madrid), Oca do Ibirapuera (São Paulo) e Museu Folkwang (Essen), entre outros. A sua obra está publicada em vários livros e catálogos e representado em várias coleções, públicas e privadas, como as do Ar.Co, Centro Português de Fotografia, Arquivo Municipal de Lisboa - Fotográfico, Coleção Moderna do Museu Calouste Gulbenkian, Coleção Berardo - Arte Moderna e Contemporânea, Fundação Luso--Americana para o Desenvolvimento, Coleção de Fotografia Contemporânea do Novo Banco, Fundació Foto Colectania (Barcelona) e Museu Folkwang (Essen). Tem recebido vários prémios, entre os quais o Prémio Bes Photo 2005 e o Prémio Especial do Júri - 47ème Salon d’Art Contemporain de Montrouge (2002).

A investigação das características específicas da linguagem fotográfica, a exploração das potencialidades do aparelho fotográfico, as imagens minúsculas, a folha branca de papel fotográfico, e a apropriação de imagens constituíram, desde sempre, a matriz do seu trabalho.

 

 

Rua da Palma, 246 | Tel. 218 844 060 | segunda a sábado, das 10h às 19h

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