Cecília Meireles e Diogo Leão apresentam "O Fenómeno Marcelino da Mata, o Herói, o Vilão e a História", de Nuno Gonçalo Poças - quinta-feira, 24, Leya na Buchholz
Cecília Meireles e Diogo Leão apresentam "O Fenómeno Marcelino da Mata, o Herói, o Vilão e a História", biografia escrita pelo advogado Nuno Gonçalo Poças, autor de “Presos Por um Fio – Portugal e as FP 25 de Abril”, na quinta-feira, 24 de Março, às 18h30, na Leya na Buchholz, em Lisboa.
A morte do tenente-coronel Marcelino da Mata em Fevereiro de 2021, com covid 19, agitou igualmente as águas dos extremismos à direita e à esquerda e desencadeou um feroz, mas inconsequente, discussão pública. “Este livro não é um manual de glorificação de Marcelino da Mata, nem pretende crucificá-lo ‘post mortem’”, escreve o autor no prólogo, sobre o fundador dos comandos, o militar mais condecorado da História portuguesa , a quem uns chamam “guerreiro mitológico, porta-voz de uma pátria que perdeu a glória”, e outros apelidam de “criminoso e traidor”, nunca acusado pelos crimes de guerra que cometeu.
“Marcelino foi uma personalidade controversa, sim, mas que encerra em si várias das grandes controvérsias por resolver da nossa História recente, tornando-se, por isso mesmo, politicamente relevante para o Portugal contemporâneo, no sentido em que se torna necessário, para arrumar definitivamente o passado, compreender que houve avanços e recuos, incoerências e desacertos em vários momentos políticos e em vários quadrantes ideológicos. O desafio é, pois, promover a pacificação política através da leitura de uma personalidade que, até à data, promoveu mais discórdia e radicalização. A tarefa será, quiçá, mal interpretada por todos aqueles que pretendem fazer da História uma batalha cultural. Se assim for, dá-la-ei por bem-sucedida.”
Este ensaio faz, por isso, uma apologia da moderação a partir da biografia de um polémico militar, tentando gerar um debate desapaixonada sobre assuntos da nossa história recente como a guerra, o período revolucionário, o fim do império colonial, o racismo, o nosso legado na África independente e a procura de respostas e dos consensos possíveis em temas tão sensíveis. Ao longo do livro, Nuno Gonçalo Poças faz um retrato da evolução dos movimentos independentistas na Guiné, da estratégia na Guerra Colonial, e dos seus protagonistas.
«Parece evidente que se foram inventando episódios acerca de Marcelino da Mata, e existem testemunhos que afiançam que várias dessas invenções tinham origem no próprio, mas o certo é que, indiferente à mitomania, a lenda crescia durante a guerra à medida que as medalhas e os louvores se sucediam e confirmavam todas as qualidades militares de Marcelino. E o PAIGC, por sua vez, ganhava a Marcelino da Mata um receio e uma raiva crescentes. Provavelmente, ambos os lados estariam a ser vítimas de algum tipo de exagero provocado, por um lado, pelo próprio regime que precisava de homens como Marcelino para fazer valer a sua posição política e, por outro lado, pela forma como o próprio Marcelino fez crescer a sua fama – não se coibindo de exagerar os feitos, acrescentando zeros às perdas inimigas, por exemplo. Os guerrilheiros achavam-no, pois, um sanguinário execrável, sentimento agravado por se tratar de um negro, guineense, que decidira combater, como tantos outros, embora ele com indiscutível sucesso, do lado da força colonizadora contra a independentista.»
O advogado NUNO GONÇALO POÇAS é autor do livro “Presos por um Fio – Portugal e as FP-25 de Abril “, editado pela Casa das Letras, em 2021, e que trouxe de novo para ordem do dia a organização. O livro teve 5 edições e foi um fenómeno de vendas no ano passado. Formado na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, é revisor do Internacional Journal of Business Strategy and Automation, da IGI Global, revista científica norte-americana, onde publicou sobre Ética e Responsabilidade Social nas Decisões Judiciais. É colunista no jornal Observador, onde também escreve ensaios sobre políticas públicas e História contemporânea.