Ciclo de debates "Águas passadas, movem moinhos?"
com Vítor Oliveira Jorge abertura de inscrições 2 set Entrada livre, mediante inscrição prévia. A presença nas 4 sessões confere um certificado de participação.

Este ciclo de debates incide sobre temáticas que têm a ver com o tempo, com a aceleração contemporânea do modo de vida, profundamente impregnado de tecnologia, e com esta espécie de fuga em frente que nos leva à mobilidade constante, à viagem. Paralela, e paradoxalmente, habita-nos o sonho da retenção, da paragem, da contemplação, da meditação, da fuga ao tempo, do descanso. Procura e choque do novo, idílio do passado; onda do movimento, e procura da cápsula onde nos possamos defender dele. De forma que a ideia de história, sempre controversa, tal como as suas associadas, a memória, o arquivo, o museu, o património, a identidade, se articulam com a ideia de viagem e tudo o que ela também tem de paradoxal: ir ver o diferente para depois, finalmente, voltar a casa, arquivar memórias, retrabalhar os momentos de despaisamento, até que surja uma nova ânsia de partir. Entre o deserto e o claustro, entre o frenesim e o repouso absoluto, entre o obsoleto, o descarte, o deitar fora, e a coleção, a rememoração, o balanço, a nossa imaginação oscila constantemente. Como podemos trabalhar tudo isso sem cair na melancolia?...
Vítor Oliveira Jorge nasceu em Lisboa em Janeiro de 1948. Licenciou-se em História na Faculdade de Letras de Lisboa em 1972. Fez quase toda a sua carreira universitária na Universidade do Porto, tendo-se aposentado em 2011. Doutorou-se em 1982 com uma tese na área da arqueologia pré-histórica, área genérica que já tinha sido a da sua tese de licenciatura. Tem obra poética, e sempre se interessou muito pela "aventura” da interdisciplinaridade, tendo organizado diversas mesas-redondas sobre temas que abordará neste ciclo de encontros.
Programa:
I - História (7 out) A história linear que nos ensinaram e ensinam não corresponde aos nossos anseios. Há que revisitar, que pensar outras maneiras de pensar a história e a temporalidade, que divirjam do tempo homogéneo e cronológico. Longe de escatologias e de vontades de "colonizar o futuro”, há que inventar formas novas de pensar a temporalidade e a causalidade. Há que convocar aqui Giorgio Agamben, Walter Benjamin, mas também Slavoj Zizek e a sua leitura de Hegel, etc.
III - Arquivo (21 out) Obsessão contemporânea, a de guardar, conservar, a de indexar, febril atitude de se contrapor ao tempo, ou seja, à morte. Uma sociedade que convive mal com a obsolescência e com a contingência, ou seja, uma angústia e ao mesmo tempo uma atração mórbida, fetichista, pelo olhar vazio da múmia: a nossa morte vista. Fantasia de eternidade, da totalidade recuperada e afinal sempre incompleta. Jacques Derrida, Michel Foucault, entre outros, têm de ser considerados.
IV - Museu (28 out) Mausoléu de tudo o que perdemos, como o arquivo, mas que aqui se expõe numa montra, num caixão de vidro. O museu é o lugar da canonização do quotidiano, seja ele de ar livre ou fechado, seja ele dirigido a objetos ou a pessoas. Museu do gesto, museu da pessoa, museu do imaterial, depois de ser gabinete de antiguidades e coleção de raridades. Museu, sintoma da nossa incurável insatisfação de consumidores, de colecionistas e de turistas. Turistas de nós mesmos. Informações Deolinda Mendes | 213 250 828 | dmendes@teatro-dmaria.pt