Ícones da música nacional e criatividade feminina iluminam a 12ª edição do Manta
O ponto de (re)encontro que nos reúne no primeiro fim de semana de setembro está bem assinalado: basta procurar a Manta estendida nos jardins do Centro Cultural Vila Flor (CCVF), em Guimarães. E assim nos cruzaremos inevitavelmente com a música e daremos entrada numa nova temporada cultural, num mês que celebra igualmente os 13 anos de vida do CCVF. E tudo começará nos dedos mágicos de Joana Gama, pianista e compositora – com participação dupla nesta edição ao inaugurar uma nova área do festival para um público mais jovem – que criará a atmosfera perfeita para a entrada dos Mão Morta, lendária banda nacional que aceitou o desafio de preparar um concerto especial onde haverá lugar para a antestreia de novas composições. Na segunda noite, o Manta será lugar de forte manifestação da criatividade feminina, com a artista brasileira LaBaq a anteceder a entrada em palco de Scout Niblett, cantora e compositora de talento ímpar que regressa a Guimarães com um concerto exclusivo.
Este ritual cultural e social que, nos últimos anos, tem preenchido o primeiro fim de semana de setembro, tem lugar num palco de relvado inteiro com horizonte entre o Castelo de Guimarães e o Centro Cultural Vila Flor, um mundo constituído por arte, natureza, arquitetura e interação comunitária – o Manta – que invade mais uma vez os jardins do CCVF para a sua 12ª edição, nos dias 07 e 08, com entrada livre.
Na primeira noite (21h30), a icónica banda Mão Morta, com 34 anos de carreira e 15 álbuns de originais, traz ao Manta a sua faceta mais imersiva, onde subtis crescendos e repentinas explosões se sucedem numa massa sonora mais ou menos suave e repetitiva, que nos embala pelas histórias negras e inquietantes que nos vão contando. Neste concerto, a banda promete tocar temas retirados um pouco de toda a sua discografia, mas também alguns módulos que irão integrar o seu próximo espetáculo e o seu próximo disco, e que farão no Manta a sua antestreia. Antes dos Mão Morta tomarem conta do palco, a pianista Joana Gama presenteia o público com um novo recital que intercala a obra multifacetada de Erik Satie com a de compositores que o seguiram na exploração do som, sem constrangimentos estéticos ou formais. Joana Gama faz, assim, conviver as obras de Satie – que convocam ambientes solenes, melancólicos e até dançantes – com as de Marco Franco, Federico Mompou, Morton Feldman, John Cage e Vítor Rua, num delicado jogo de afinidades.
No segundo dia, às 18h00, é inaugurada uma nova área do festival dedicada ao público mais jovem com um concerto comentado de Joana Gama envolto no universo do Erik Satie. Para além de compositor de música – o piano foi o seu instrumento de eleição –, Erik Satie gostava de guarda-chuvas, de desenhar e de marisco. Era uma pessoa solitária, mas com muito humor. Dirigido às crianças a partir dos 6 anos de idade, este concerto dará a conhecer, aos mais novos, uma perspetiva enriquecedora de uma das mais excêntricas personagens da história da música.
Chegada a noite de sábado (21h30), o Manta será lugar de forte manifestação da criatividade feminina, a começar com a prestação da artista brasileira LaBaq que, através de engenho tecnológico e beleza de composição, apresentará o seu sedutor universo de canções internacionalmente aclamadas. Com uma aura carismática que nos prende de imediato, a multinstrumentista e cantautora reclama nas suas músicas pela beleza das coisas simples da vida. De voz límpida que desliza nas melodias suaves que compõe, LaBaq tem vindo a deixar o público rendido e não para de colher um incrível reconhecimento junto da crítica. Depois o céu ficará mais estrelado e entrará em palco Scout Niblett, que visita o Manta para um concerto exclusivo, trazendo-nos à pele e ao espírito a experiência grandiosa do seu olhar criador. Cantora e compositora de talento ímpar, Scout Niblett é dona de uma voz simultaneamente doce, melancólica e cortante. Com uma sonoridade minimalista que obtém o máximo dos resultados, Niblett é conhecida pelas canções cruas e concertos intimistas que absorvem a audiência. De corpo estendido na manta do Manta, esta é, sem dúvida, uma noite para levitar.
Esta soma de fatores faz do Manta o ponto de (re)encontro obrigatório no regresso à cidade e também o contexto ideal para o lançamento da nova temporada cultural em Guimarães. Setembro é pois nome de código feliz.