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Cultura de Borla

A Cultura que não tem preço.

Lançamento 4.ª obra Filipe Marinheiro@

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Nova obra de Filipe Marinheiro «Escuridões» em tributo ao poeta Herberto Helder Sob a chancela da Âncora Editora é lançado amanhã em Aveiro e dia 8 de Dezembro em Lisboa

 

Após publicar o último livro «Noutros Rostos» em Dezembro de 2014, o poeta Filipe Marinheiro permaneceu quatro anos num silêncio absoluto, dividido entre a produção de novas obras poéticas, bem como numa pausa de silêncio para reflexão e ponderação do caminho a tomar rumo, mais propriamente a mudança de editora.

Em declarações à imprensa, o editor da Âncora Editora António Baptista Lopes disse que «é com imenso agrado que vamos representar desde hoje na nossa editora o poeta Filipe Marinheiro. Iremos dar início ao que espero ser uma caminhada bem longa e profícua».

 

«Escuridões» é, entre muitas outras coisas, uma anti-celebração não pactuando por quem o lê, sem fundar com o leitor um modo transparente de identidade entre a pessoa meramente dogmática mas totalmente empírica do autor Filipe Marinheiro e a sopro da escrita que manifesta ao longo das páginas desta obra que assombra, abala, amedronta, através de leis muito intensas como a física quântica, o pulsar da anatomia humana com a natureza e o desconhecido das leis dos universos paralelos ou multiversos.

É interessante os mistérios deixados, jamais ao acaso, as suas sensações, emoções, sentimentos, obsessões, compulsões, ansiedades versus calmaria, as palavras como rastros pessoais significam ou demonstram nesta obra pistas metafóricas ou mesmo nalguns poemas-texto pistas alegóricas espalhadas na substância e em torno destas «Escuridões» subtilmente confessionais sem o ser disciplinarmente com rigoroso rigor.

 

Filipe Marinheiro gerador de uma poética muito própria, única, desafia quer conscientemente, quer inconscientemente as abordagens aos enigmas e às metafísicas do mundo partindo da questão autobiográfica, deixando nas mãos dos leitores irem ao encontro dele: lendo-o, meditando-o, respirando-o, visto que considera a sua poesia inacabada. Inacabada no sentido que o poema tem de ser sempre contínuo e são os leitores que ao longo das suas vidas o vão continuando: tecendo-o a todo o fulgor. Os leitores e a própria pulsão e propulsão da natureza-mãe são pois a extensão infinita e impassível dos seus poemas e obras.

Mesmo correndo o perigo de parecer prejudicial ou mesmo nocivo a obra «Escuridões» serve de fome e alimento num recolhimento tal que ao longo do livro o autor devora em alguns momento específico a sua própria biografia e a dos outros como se tratasse de um "canibal". A apelidada antropofagia.

 

A previsão autobiográfica patente em «Escuridões» é a voz, o sopro, o ritmo, os movimentos de acções obscuras com que essas unidades escriturais são tratadas ao longo deste livro.

Os traços da infância, adolescência, pós-adolescência e vida adulta ou seja, as experiências e vivências mais notórias, vincadas, marcantes do sujeito-autor-leitor estão perfeitamente decalcadas e identificadas em cada texto, em cada página, em cada travessia ou salto ou quietude. Filipe Marinheiro é tanto um espectador, minuciosamente, atento com um cariz melancólico, bem como pragmático, objectivo, da sua própria noção de vida. Uma clareza sensível da e na sua vida exposta às escuridões mundanas ou "divinas" e não menos importante a camuflagem que o poeta apresenta enquanto mecanismo de defesa sobre a eterna guerra do bem e do mal. A eterna guerrilha entre a vida e morte. Camuflagem dos seus [eu's] entre as matérias vivas que nos revela com cautela os limites da linguagem até às desconstruções do seu discurso vivido e criado pela imagética.

 

 

 

 

Nestas intensas «Escuridões» o poeta Filipe Marinheiro não só possibilita como encara a destruição os limites dos [eu's], da consciência do real e irreal e da linguagem mediante o recurso à multiplicidade mitológica: observando-se por vezes o protagonista das acções, outras como um mero observador estonteado dessas mesmas acções. Os eu's-espectador-protagonista, ou, se assim o percebermos, os não-eu's-espectador-protagonista.

A descaracterização litúrgica evidente que os leitores presenciam em «Escuridões», a pouco e pouco, vão mergulhando em metamorfose e subterfúgios paradoxais, não como fuga às suas responsabilidades enquanto protagonista-espectador-poeta antes pelo contrário aponta os textos como ficaram antes ditos. Ao embrenharmos na substância da obra os textos-poema vão escorregar, em algumas fases, para um asfalto ou terreno alagadiço ou mesmo problemático da autobiografia corpo a corpo. Corpos entre corpos. Corpo por corpo. Rastros dos seus elementos encurtando através das suas caminhadas e odisseias as distâncias: de espaço--tempo, electromagnetismo, forças gravitacionais e os interstícios do ser e ser-se na escrita ou nas possibilidades do pensamento poético.

 

Filipe Marinheiro opera nesta obra interdisciplinar, centrando-se num ponto nevrálgico: a criação de realidades prendadas de pulsações, de simbolismos, de representações bizarras, do estranho, do inusitado e dos universos particulares, quânticos. Consegue-se perfeitamente assimilar que para o poeta o corpo é uma vida que antes de ter algum significado ou tudo quanto executa, passa, por um processo de equívocos, existe.

 

Muito importante, as «Escuridões» são para além de um só único poema: subdividido, disseminado, fragmentado por impasses e soluções concretas, um tributo ao que ele considera o poeta maior português e mesmo a nível mundial de todos os tempos, Herberto Helder, assumindo como o mestre vidente e de proa: Arthur Rimbaud. Todos são filhos, netos, bisnetos de Rimbaud e em breve também o serão de Herberto Helder.

 

Ao abrir o livro depara-se-nos, após uma nota introdutória de Filipe Marinheiro: «peço a todos os leitores que me leiam sem regras: livremente como uma ave flutua sobre o mar azul... à sua própria medida... esta é a única regra intemporal: regra de ouro», os primeiros versos da primeira e última obra publicada em vida do poeta Herberto Helder. «Em memória: mestre do silêncio: Herberto Helder [publicado em vida]: ”dai-me uma jovem mulher com sua harpa de sombra e seu arbusto de sangue. com ela encantarei a noite.em «o amor em visita», lisboa, contraponto, 1958 e “– e dizem que há tanto gás por esse mundo fora, países inteiros cheios de gás por baixo!” em «a morte sem mestre», porto, porto editora, 2014. Biografia de Herberto Helder: [nascimento: 23 de novembro de 1930, funchal, madeira; falecimento: 23 de março de 2015, cascais].

 

Filipe Marinheiro, natural de Aveiro, nasceu em Coimbra. No liceu frequentou e concluiu o agrupamento de humanidades, licenciando-se em gestão e administração de marketing pelo IPAM Aveiro [Instituto Português de Administração de Marketing – Ensino Superior Privado] entre 2001-2006, antes do processo de bolonha.

Publicou o primeiro livro, «Um cândido dilúvio  acto I e sombras em derivas - acto II» em Março de 2013, «Silêncios» em Dezembro de 2013, a sua 2.ª obra, e mais recentemente «Noutros Rostos» em Dezembro 2014 como a 3.ª obra do poeta. «Escuridões» será lançada amanhã dia 1 de Dezembro em Aveiro na Casa do despacho, junto à Igreja da Santa Casa da Misericórdia [em frente ao Teatro Aveirense] e no próximo sábado dia 8 de Dezembro na Lx Factory na Livraria Ler Devagar. O horário alargado entre as 15h e as 19h é aberto ao público.

 

«Escuridões» está distribuída pela Âncora Editora de norte a sul do país em diversas livrarias, no site: http://www.ancora-editora.pt/ e nas plataformas on-line de venda de livros: Fnac, Bertrand e Wook.