Maré cheia de poesia traz a Matosinhos os versos de Manuel Alegre
Décima quarta edição da Festa da Poesia acontece nos dias 6, 7 e 8 de dezembro, sob a influência de Florbela Espanca e centrada numa homenagem ao autor de “O Canto e as Armas”.
“Não sei de que cor são os navios/quando naufragam no meio dos teus braços”. Os dois versos de “Coração Polar”, de Manuel Alegre, podiam ter sido escritos a pensar nos barcos que todos os dias chegam ao Porto de Leixões e daqui partem, levando “Portugal à flor das águas”. Se o não foram, estarão a partir de agora imortalizados em Matosinhos, que acolhe na próxima semana a décima quarta edição da Festa da Poesia.
Celebrada para assinalar o dia do nascimento de Florbela Espanca, a 8 de dezembro de 1894, e também a data da sua morte, em Matosinhos, no dia 8 de dezembro de 1930, a Festa da Poesia presta este ano homenagem ao autor da “Praça da Canção”. O evento decorrerá nos dias 6, 7 e 8 de dezembro, evocando Manuel Alegre e os seus poemas em várias sessões, numa placa evocativa que será descerrada da Biblioteca Municipal Florbela Espanca e também no pavimento da Rua Brito Capelo, onde os versos daquele que é um dos mais importantes poetas contemporâneos portugueses ficarão doravante inscritos, contaminando de poesia o quotidiano dos matosinhenses.
Recentemente galardoado com o Prémio Camões, Manuel Alegre construiu uma obra ímpar em diálogo com a história e a mitologia do país, num percurso com ligações ao romance e à música. Durante três dias, a programação da Festa da Poesia vai mostrar a amplitude de horizontes da sua poesia, que será lida, contada e cantada em vários espaços da cidade.
A celebração arranca na manhã de dia 6, com uma visita do declamador Alberto Serra ao Centro Social de Leça do Balio, para uma sessão em torno da poesia de Manuel Alegre. No dia 7 será a vez o homenageado visitar a Escola Secundária da Boa Nova, em Leça da Palmeira, para uma sessão com alunos daquela escola
A programação na Biblioteca Municipal Florbela Espanca arrancará às 15h30 do dia 7, com o descerramento de uma placa comemorativa do Poeta da Liberdade. Pelas 15h45 terá início a sessão “Como dizer um coração fora do peito”, uma conversa sobre a relação do poeta com a música, que contará com a presença de Joana Alegre e Maria Ana Bobone, responsáveis também por alguns apontamentos musicais.
Às 21h30 do dia 7 a Festa da Poesia transfere-se para o Teatro Municipal de Matosinhos-Constantino Nery, onde o ator Pedro Lamares e harpista e compositora Ana Isabel Dias apresentam o espetáculo “Um Secreto Regresso por Jacarandá”.
No dia 8, aniversário de Florbela Espanca, o evento regressa à biblioteca que evoca a poetisa. O programa começará às 15 horas, com a apresentação de “Todos os poemas são de amor”, o mais recente livro de Manuel Alegre, com a presença do autor e do escritor Mário Cláudio. Pelas 16 horas, a relação da poesia com a guerra colonial será tema da conversa com Maria João Reynaud e Paula Morão.
Manuel Alegre regressará ao palco às 17 horas, para uma conversa com João Gobern em que passará em revista a sua vida e obra. Entre sessões, o som dos versos do poeta da “Trova do Vento que Passa” ecoará na Biblioteca Municipal Florbela Espanca pelas vozes de Isaque Ferreira e Rui Spranger. A décima quarta Festa da Poesia despede-se às 18h30, no Salão Nobre da Câmara Municipal, com um concerto do Quarteto de Cordas de Matosinhos, acompanhado pela viola de Tatjana Masurenko e pelo violoncelo de Teresa Valente Pereira.
Para além dos marítimos “Não sei de que cor são os navios/quando naufragam no meio dos teus braços”, a Rua Brito Capelo vai acolher outros versos de Manuel Alegre, como “é tudo o que tem/quem vive na servidão”, “Os pássaros voam sobre a própria despedida”, “Quanto mais te perco mais te encontro”, “As facas ferem mais quando me faltas” e “Quero escrever um poema/Como quem escreve o momento”. Para ler bastará caminhar.