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Cultura de Borla

A Cultura que não tem preço.

MUSEU NACIONAL DA MÚSICA | próximos eventos FEVEREIRO DE 2022

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17 DE FEVEREIRO, 18H
Ciclo do Conservatório Nacional no Museu Nacional da Música
Apresentação dos alunos da Classe de Canto de Ana Paula Russo
Entrada Livre
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18 DE FEVEREIRO, 14H-19H
III ENCONTRO MUSAS 
A MÚSICA DAS ARTES 
org. João Pedro Cachopo / CESEM-MUSEU NACIONAL DA MÚSICA
 
O bilhete do museu dá acesso ao evento
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III Encontro Musas - A Música das Artes
PROGRAMA
14h00 - Abertura por João Pedro Cachopo
14h10 - Daniel Moreira
“Films are like music”: David Lynch e os paradoxos do inefável
15h10 - Filipa Cruz
Músicas imaginárias como experiência do humano em A Metamorfose e Nunca me Deixes
16h10 - Pausa
16h30 - Manuela Toscano
Da música na pintura: o Prelúdio e Fuga (1908) de M. K. Čiurlionis
17h30 - Ana Paixão
“A música é só música, eu sei”: quando a literatura portuguesa contemporânea escuta a música
 
O mote dos Encontros MUSAS – A Música das Artes decorre de um desvio e de uma dobra: partindo de um descentramento em relação às práticas e aos saberes da música, elege-se o propósito de meditar sobre a perspectiva de outras artes, e dos saberes que as tomam por objecto, sobre o acontecimento e a experiência sonoros.
Falamos de musas – de como a música inspira – mas que não haja equívoco: falamos igualmente de sereias. Há fascínio e há desconfiança, tal como há perplexidade, nestas escutas. Daí as seguintes questões. O que sugere, ou que perguntas nos incita a fazer, o facto de a influência, o modelo ou a esquivez da música serem ora esconjuradas ora convocadas por outras artes? O que motiva tais apreciações? Como se reflectem na prática? De que modo reforçam ou dissolvem os binómios entre espaço e tempo, interior e exterior, sujeito e objecto, material e espiritual, aspereza e suavidade que tantas vezes se associam à reflexão meta-musical? O que nos diz tudo isto, não só sobre o que seja a música, mas também sobre as obsessões e as aspirações dessas outras artes?
A música das artes: quer dizer, a música tal como a escutam, mas também tal como a imaginam, transfiguram ou alucinam outras artes – eis o que nos interessa discutir.
 
Daniel Moreira - “Films are like music”:
David Lynch e os paradoxos do inefável
Música e cinema partilham três categorias fundamentais – movimento, ritmo e temporalidade –, possibilitando influências, apropriações e contaminações recíprocas. Não surpreende, pois, que sejam múltiplos os exemplos de apropriação cinematográfica de uma certa noção de musicalidade (Kulezic-Wilson, 2015). Basta lembrar a ideia do filme como “sinfonia de luzes” no cinema impressionista francês ou a influência dos videoclipes da MTV no cinema dos anos 80 e 90.
Nesta comunicação, discuto de que modo os filmes e séries recentes de David Lynch evocam uma noção de musicalidade (reconhecida pelo próprio realizador). Essa noção vai muito para além da utilização de música, alastrando-se não só aos outros sons (efeitos e diálogos), mas também, de algum modo, à imagem e narrativa. No centro do meu argumento está a ideia que a obra de Lynch evoca um entendimento específico da música como arte do inefável, relacionando-se, em particular, com os “paradoxos do inefável” propostos por Gallope (2017) na sua recente reconfiguração deste conceito.
Daniel Moreira é compositor e investigador em música, sendo Doutorado (PhD) em Composição pelo King’s College (University of London, 2017) e Mestre em Composição e Teoria Musical pela ESMAE (Politécnico do Porto, 2010). Tanto a sua música como a sua produção teórica se têm frequentemente debruçado sobre a relação entre música e cinema, como se pode ouvir em Isto não é um filme (2020), uma composição para orquestra e electrónica, e ler em dois artigos recentes sobre a música de Bernard Herrmann para os filmes de Hitchcock, publicados na Music Analysis (2021) e no Journal of Film Music (no prelo). É professor de Análise, Composição e Estética Musical na ESMAE e investigador integrado no CEIS-20 (Universidade de Coimbra).
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Filipa Cruz - Músicas imaginárias como experiência do humano em A Metamorfose e Nunca me Deixes
A experiência musical é sempre e necessariamente uma experiência humana, dependente de interpretações, reacções emotivas e corporais: o elo que liga o sujeito ao som. Situadas em realidades históricas diferentes, Die Verwandlung de Franz Kafka (1915) e Never Let Me Go de Kazuo Ishiguro (2005) são duas obras literárias que, em pólos opostos do mesmo espectro, nos forçam a reflectir sobre a audição musical como experiência de humanização.
Esta apresentação terá como propósitos analisar os modos como a música presente nestes textos, e materializada nas suas adaptações cinematográficas, estabelece uma relação com o absurdo; e pensar o conceito de auditory gaze, proposto por Lawrence Kramer, como refutação do animalesco e do artificial.
Filipa Cruz é membro do CESEM e doutoranda em Ciências Musicais na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. A sua investigação debruça-se sobre a relação entre os meios literário e musical e tem procurado compreender e analisar, sob uma lente interdisciplinar, o papel da música na poesia de Fernando Pessoa, as canções de Fernando Lopes-Graça sobre poemas pessoanos e, mais recentemente, o conceito de música imaginária e os processos mediante os quais esta se materializa no meio cinematográfico.
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Manuela Toscano - Da música na pintura: o Prelúdio e Fuga (1908) de M.K. Čiurlionis
Este díptico de Čiurlions (1875-1911)apresenta sinais de um íntimo apelo cosmogónico e místico, sugerindo uma viagem interior em direcção à música do universo e à sua causa insondável. No plano formal pictórico, aquele apelo manifesta-se na concretização harmoniosamente unificadora de uma simultaneidade “polifónica” de planos espaciais (Fuga).
O próprio título, alusivo à música instrumental, acentua a inscrição da ideia de música nesta pintura, ao actualizar um campo memorial filosófico, teórico e de recepção musical, a interpretar.
Mostrarei de que modo a representação da música no Romantismo germânico e no Simbolismo constitui o elo comum das escolhas formais e simbólicas desta obra, para além da sua modalidade própria.
Analisarei e problematizarei instâncias de relação interartística que aqui se instauram, na teoria e na prática.
Manuela Toscano foi professora auxiliar no Departamento de Ciências Musicais da Universidade Nova de Lisboa. Licenciou-se em Ciências Musicais (1987) e doutorou-se em Ciências Musicais (2002) naquela Universidade. Enquanto docente naquele Departamento (1990-2021) ensinou Filosofia da Música, Música e Literatura, História da Música do Séc.XX, entre outras disciplinas. É autora de Maneirismo inquieto.
Os Responsórios de Semana Santa de Carlo Gesualdo, 3 vols. (2007) e de publicações nacionais e internacionais. É investigadora do CESEM.
Em 1981 obteve o Diploma Degré Supérieur de Piano do Conservatoire Européen de Paris, depois de trabalhar com Yvonne Léfébure como bolseira do Governo Francês. Paralelamente às suas funções académicas realizou, como pianista, recitais de Lied e mélodie (1992-2002).Cantou no Coro Gulbenkian (1975- 2017).
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Ana Paixão - “A música é só música, eu sei”: quando a literatura portuguesa contemporânea escuta a música
Jorge de Sena publicou Arte de Música em 1968, obra de síntese e de impulso criativo que deu a ouvir e a ler modos diversos de ligação entre literatura e música. A relação entre as duas artes pode partir da simples referência até à fusão e apropriação, através de procedimentos de escrita muito explorados na literatura portuguesa contemporânea. Esta análise procurará indicar algumas das vias intersemióticas como a citação e o paralelismo utilizados por Eugénio de Andrade ou Vasco Graça Moura, ou a integração musical das construções polifónicas de António Lobo Antunes. Veremos como a escrita de Maria Gabriela Llansol se apropria do discurso musical assimilando-o ao literário e de que modo Ana Hatherly compõe através de palavras, ou de formas de escrita visual ou cinematográfica.
A ligação intersemiótica presente na literatura portuguesa contemporânea mostra a que ponto as duas artes se escutam e se fundem, recriando-se em objetos artísticos híbridos e em novas sonoridades.
Ana Paixão é doutorada em Literatura comparada com uma tese sobre «Retórica e técnicas de escrita literárias e musicais em Portugal, entre os séculos XVII-XIX», pelas Universidades de Lisboa e de Nice-Sofia Antipolis, publicada pelas edições L’Harmattan. É membro do Conselho científico do CESEM da Univ. Nova de Lisboa, membro do CREPAL (Centre de Recherche sur les Pays Lusophones, Univ. Paris III, EA 3421), e do Conselho científico da Cátedra Poesia e transcendência – Sophia de Mello Breyner da Univ. Católica do Porto. Foi Leitora na Univ. de Paris III e docente na Escola de Música do Conservatório Nacional em Lisboa. Desde 2010, ensina na Univ. de Paris 8, dirige a Casa de Portugal – André de Gouveia, e é vice-presidente da conferência de diretores da Cidade internacional universitária de Paris. O seu trabalho de investigação foi premiado, em 2019, com uma Palma Académica no grau de Chevalier. 
 

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