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Cultura de Borla

A Cultura que não tem preço.

Newsletter Pickpocket Gallery - António Saragoça, O Homem que Emprestava Sorrisos

António Saragoça,
O Homem que Emprestava Sorrisos
 

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10 a 24 de Abril
na Pickpocket Gallery

Inauguração: 10 de Abril, 18:00
Horário: de Quarta a Sábado, das 16:00 às 20:00

 

Para o momento de viragem na sua aventura iniciada em 2010, a Pickpocket escolheu mostrar o inédito trabalho de António Saragoça (n.1941) que tem guardado como um tesouro e agora revela aos verdadeiros amantes da fotografia.

A Pickpocket Gallery tem o prazer e a honra de te convidar para a inauguração da exposição "O Homem que Emprestava Sorrisos"


António Saragoça, um fotografo espontâneo

 
É certo que cada pessoa é inigualável e cada artista tem o seu próprio universo, que nos pode deixar visitar, para nosso privilégio. Porém, o António Saragoça, mais do que qualquer outro que terá passado pelas paredes da Pickpocket, incorporou a sua vivência ao acto de fotografar e aceitou que a fotografia se imiscuísse na sua vida com uma humanidade e permeabilidade apenas comparável com a que a sua própria comunidade assimilou o Saragoça fotógrafo.
A amostra do obra que agora apresentamos representa apenas uma pequeníssima parte do seu trabalho de anos em que registou o quotidiano de uma pequena comunidade onde ele era o único fotografo. As suas imagens mostram-nos um Portugal que agora parece distante e porém tão próximo, onde uma comunidade crescia como podia, apertada com dificuldades de todo o tipo. Nessas imagens, tão portuguesas e tão universais, vêem-se com cristalina claridade e impressionante vivacidade os sonhos, a dor, a alegria e as contradições de que a vida é pródiga, numa vila alentejana dos anos 60. O olhar de Saragoça não é diferente do olhar dos personagens das suas fotografias: são cúmplices de uma vivência comum e assim interpelam com toda a proximidade possível o outro, numa ligação de olhares mediada naturalmente pelo aparelho fotografico, mas nem por isso colocando o fotografado como um sujeito distante do fotografo, nem vice-versa. As poderosas imagens de Saragoça lembram-nos, uma vez mais, que a magia da fotografia pode ocorrer precisamente quando ela não se impõe como intermediário e apenas deixa a vida fluir.
 
 
E um fundador inesperado
 
Em Agosto de 2010, um telefonema da Ana Saragoça dá um empurrão definitivo para a criação daquilo que viria a ser brevemente a Pickpocket Gallery. Nessa altura questionava-me se valeria a pena o esforço de criar um espaço dedicado exclusivamente a fotografia que acolhesse de forma des-sacralizada trabalhos de todo o tipo, desde fotografia vernacular a instalações fotográficas e que desse atenção a autores desconhecidos bem como a formatos e projectos menos "convencionais".  Nesse telefonema, a Ana, filha do Antonio Saragoça, pede-me um conselho sobre o que fazer com uma mala com negativos que tinha em casa. E quando me explica do que se trata, trato imediatamente de comprar um scanner de negativos para literalmente fazer passar de novo luz por essas imagens. Quando fizemos o scan da primeira imagem, escolhida aleatoriamente de entre milhares de negativos de médio formato, fiquei rendido à singularidade e tremendo valor do que tínhamos na mão. Essa imagem, numa primeira avaliação rápida olhando para o negativo, revelava uma aparente e banal situação de casamento. Mas ao ver a imagem positiva no computador, uma saída de noivos à porta de uma igreja rodeados pelos seus convidados, reparo num detalhe aparentemente banal para os fotografados, e por isso altamente electrizante: entre noivos a preceito e convidados de fato, notoriamente vestidos como melhor podiam, existem pessoas sem sapatos. Um pequeno detalhe e no entanto tão significativo e representativo de uma certa vivência na época. O entusiasmo que imediatamente se nos apoderou para "recuperar" todas as imagens do Antonio Saragoça foi grande e consolidou de imediato o meu desejo de criar um novo espaço em Lisboa para a "descoberta" de projectos fotográficos e novos e velhos fotógrafos, aumentando as parquissimas oportunidades de que isso suceda num país pouco interessado pela fotografia. Um mês depois abri a galeria em Santa Apolonia. A Ana continuou o seu trabalho de meses a recuperar as imagens do pai e fomos ambos alimentando a ideia de que um dia eu podería fazer algo em grande com esse trabalho. A pompa e circunstância acabou por nunca acontecer, mais por falta de recursos do que por vontade. E agora que provavelmente se encerrará em breve a aventura que foi a existência da Pickpocket, torna-se obrigatório trazer o Antonio Saragoça às paredes deste espaço. Tenho a certeza que será uma surpresa agradável a descoberta deste fotografo, que tanta gente feliz fez em Vila Nova da Baronia e que, sem o saber, foi parte responsável pela criação da Pickpocket Gallery.
 

Rui Poças


 

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