Cultura de Borla

Tableaux Vivants é uma representação lúdica, muito conhecida pelos fins educacionais e recreativos na história cultural dos Estados Unidos que significa, traduzido do francês, “imagens vivas” ou quadros vivos. O género tornou-se muito popular  entre 1830 e 1920. Tipicamente, numa representação de tableaux vivants, o elenco de personagens representava, em palco, cenas da literatura, da arte, da história ou da vida quotidiana. Içada a cortina, os modelos permaneciam estáticos e em silêncio durante cerca de trinta segundos. Era colocada profunda enfâse na encenação, pose, traje, maquiagem, iluminação e, sobretudo, expressão facial dos modelos. Por vezes, um poema ou música acompanhava a cena.

Dirigida Por Ricardo Barceló, teve a sua estreia em Portugal no dia 5 de Maio de 2019 na Igreja de São Roque e durante as suas 10 primeiras sessões recebeu mais de 2 mil espectadores.

Quadro a quadro, assistimos às recriações das obras do pintor, testemunhando também a harmonia da música e dos movimentos na construção e desconstrução de cada cena. Em cada intervalo, experienciamos também a essencial neutralidade dos atores, criando uma expectativa pelo que se segue.

As dramatizações são acompanhadas pela Missa e B Menor de Bach e trabalhadas com luz por forma a emular o efeito luminoso característico das obras do pintor italiano, conhecido por Tenebrismo.

Caravaggio pintou fundamentalmente temas religiosos. Nos seus quadros, em vez de adotar figuras etéreas delicadas e perfeitas para representar acontecimentos e personagens bíblicos, o pintor preferia modelos mais próximos das figuras do povo, procurando a realidade crua, palpável e quase sensorial da representação.

Esta representação da irredutibilidade humana, incorporava a imperfeição e o mundano em cenas ousadas, características estas que distinguem inequivocamente as obras de Caravaggio.

Neste trabalho exploramos este percurso em sentido inverso. Partindo das suas mais conhecidas obras, pretendemos dar-lhes a vida que teriam os modelos fora da tela. Ousamos, da mesma forma, reproduzir a intensidade retratada na própria imagem que teria inspirado o pintor.

Envolvido por um enquadramento musical que entendemos ir de encontro à intenção estética e emocional que o pintor intencionou imprimir nos seus quadros, pretendemos devolver ao corpo, a rudez, a emoção e a intensidade pulsátil tão bem representadas por Caravaggio.