SERRALVES_CASA DO CINEMA MANOEL DE OLIVEIRA // DE 23 DE OUT 2020 A 18 ABRIL 2021 // MANOEL OLIVEIRA FOTÓGRAFO
MANOEL DE OLIVEIRA, O CINEASTA FOTÓGRAFO
Entre 1930 e 1950 Manoel de Oliveira desenvolveu, paralelamente ao cinema, um crescente interesse pela fotografia. As mais de cem fotografias que agora se apresentam na exposição Manoel de Oliveira Fotógrafo são uma das grandes surpresas que o arquivo pessoal de Manoel de Oliveira reservava. Guardadas durante várias décadas, na sua maioria inéditas, estas imagens revelam não só uma faceta ignorada do realizador — a sua atividade como fotógrafo —, como lançam novas hipóteses de olhar para a evolução da sua obra cinematográfica.
Esta passagem de Oliveira pela imagem estática é uma etapa determinante do seu percurso como cineasta. Em diálogo tanto com o pictorialismo como com o construtivismo e com as experiências da Bauhaus, as fotografias do realizador participam do mesmo espírito modernista que animou toda a primeira fase da sua produção cinematográfica. Douro, Faina Fluvial (1931), Hulha Branca (1932), Já se fabricam automóveis em Portugal (1938) e Famalicão (1941), são filmes onde o dinamismo do enquadramento e do trabalho da câmara revela, por vezes, o mesmo pendor para a abstração que encontramos nalguns dos primeiros guiões de Oliveira, como Bruma (argumento para um filme) (1931), Ritmos e águas (1931) ou Luz, Roda e Miséria (todos eles de 1933). As fotografias inéditas que agora se apresentam constituem um precioso instrumento para compreender melhor o modo como Oliveira passa a assegurar a direção de fotografia dos seus próprios filmes, bem como para contextualizar o rigor de composição e enquadramento que carateriza toda a sua obra cinematográfica.
Se a descoberta destas imagens abre novas perspetivas sobre a produção cinematográfica de Manoel de Oliveira, espera-se que possa contribuir para o exame das intrincadas relações entre imagem estática e imagem em movimento, para a reavaliação crítica do papel dos fotógrafos amadores no debate e circulação internacional de ideias e processos fotográficos, para uma melhor compreensão do jogo tensional entre salonismo e modernismo, bem como para o estudo da fotografia portuguesa dos anos 1940.
MANOEL OLIVEIRA FOTÓGRAFO
Tratando-se de uma mostra seletiva, pretendeu-se que esta exposição espelhasse as múltiplas vertentes da pesquisa levada a cabo pelo realizador, tanto em termos de possíveis influências ou da proximidade a escolas e correntes fotográficas, como no que respeita a géneros e temáticas, procurando manter um justo equilíbrio entre a apreciação da fotografia como prática autónoma (e, como tal, válida em si mesma) e a colocação dessas mesmas imagens em ressonância com a produção fílmica do autor.
Do ponto de vista material, uma parte muito significativa das fotografias que agora se expõem são provas originais da época (gelatina de prata com diferentes técnicas de tintagem, impressas sobre uma grande variedade de papéis). Relativamente às restantes, optou-se pela digitalização, tratamento e impressão digital dos negativos sobre papel barita. Pretendeu-se, igualmente, evitar o pastiche e assumir uma diferenciação entre estes dois tipos de imagens, originais e tiragens contemporâneas.
Organizada pela Casa do Cinema Manoel de Oliveira e comissariada por António Preto, a exposição apresenta cerca de uma centena de fotografias e será acompanhada pela edição de um catálogo, um ciclo de cinema e um programa de conferências.
O CATÁLOGO
Além da reprodução das cerca de 100 fotografias a apresentar na exposição, o catálogo incluirá ainda outras imagens produzidas pelo realizador que não entraram na exposição, assim como documentação e ensaios inéditos de autores portugueses e estrangeiros acerca da produção fotográfica de Manoel de Oliveira e da relação destas imagens com a sua obra cinematográfica. A publicação contará com uma introdução geral e uma apresentação da exposição por António Preto, e reunirá textos de Bernardo Pinto de Almeida (ensaísta e professor catedrático da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto), Emília Tavares (conservadora e curadora para a área de Fotografia e Novos Media no Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado), Maria do Carmo Serén (coordenadora no Centro Português de Fotografia e investigadora do CITCEM – Centro de Investigação Transdisciplinar, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto), e do investigador britânico especializado na relações entre cinema e fotografia, David Campany.
Edição bilingue (português/inglês), com cerca de 350 páginas, esta publicação acompanhará a exposição Manoel de Oliveira Fotógrafo
PROGRAMAÇÃO DE CINEMA
Em paralelo à exposição Manoel de Oliveira Fotógrafo, a Casa do Cinema apresentará uma programação de cinema organizada em dois momentos: (1) um primeiro, onde se interrogam as relações entre o cinema e a fotografia, bem como as tensões que se foram perfilando entre imagem fixa e imagem em movimento ao longo da história do cinema; (2) e um segundo, que sonda mudanças de rumo no que respeita à direção de fotografia dos filmes que Manoel de Oliveira realizou até ao final dos anos 1960.
O ciclo Cinema e Fotografia: Visões Espectrais propõe olhar para a história das aproximações e confrontos entre esses dois meios de expressão artística a partir do ponto de vista da morte, usando o filme de Manoel de Oliveira O Estranho Caso de Angélica como ponto de partida. Este programa propõe um percurso pelo modo como a espectralidade fotográfica anima a imagem fixa, antecipando, nesse ponto, o próprio dispositivo cinematográfico. São mais de trinta filmes, de Georges Méliès a Apichatpong Weerasethakul, que põem em causa a estabilidade da imagem parada e nela insuflam o movimento fantasmático do desejo, da transcendência, da fantasia, da memória, do grotesco, da revolta e da própria morte.
Já no ciclo Manoel de Oliveira, Direção de Fotografia: da montagem à duração percorrem-se, cronologicamente, todos os filmes (com exceção, natural, para o desaparecido Miramar, Praia das Rosas) realizados pelo cineasta desde a sua estreia, em 1931 com Douro, Faina Fluvial, até a A Caça, estreado em 1964 – trajetória a que se acrescenta um filme com sua produção, montagem e supervisão, A Propósito da Inauguração de uma Estátua - Porto 1100 anos. Se numa primeira fase, em que quase todos os filmes têm direção de fotografia de António Mendes, Oliveira encara a arte do cinema pelo labor da montagem, quando passa, ele próprio, a encarregar-se da fotografia dos seus filmes, ou seja, a partir de O Pintor e a Cidade, os planos distendem-se, a duração afirma-se e o tempo passa a ser a razão de ser do seu olhar. Através destas cinco sessões, promove-se uma revisitação da fase inicial da carreira de Manoel de Oliveira com o propósito de revelar o processo através do qual o realizador foi construindo a singularidade do seu olhar sobre o cinema e aquilo que o cinema fotografa.
ATIVIDADES PARALELAS
CINEMA
CINEMA E FOTOGRAFIA: VISÕES ESPECTRAIS
FOTO-FANTASMAGORIAS
28 NOV | Sáb | 17h00
O Estranho Caso de Angélica
Manoel de Oliveira | PT, ES, FR, BR | 97 min. | 2010
101, a propòs de Manoel de Oliveira
Luis Miñarro | ES | 20 min. | 2012
29 NOV | Dom | 17h00
In Waking Hour
Sara Vanagt, Katrien Vanagt | BE | 18 min. | 2015
Images
Robert Altman | USA | 101 min. | 1972
OBSESSÕES FOTOGRÁFICAS
6 DEZ | Dom | 17h00
Le Portrait mystérieux
Georges Méliès | FR | 2 min. | 1903
0116643225059
Apichatpong Weerasethakul | TH, USA | 5 min. | 1994
The Cameraman
Edward Sedgwick, Buster Keaton | EUA | 78 min. | 1928
13 DEZ | Dom | 17h00
Laura
Tânia Dinis | PT | 10 min. | 2017
Zelig
Woody Allen | USA | 79 min. | 1983
20 DEZ | Dom | 17h00
Mur 19
Mark Rappaport | EUA | 22 min. | 1966
Anna
Pierre Koralnik | FR | 85 min. | 1967
ALBUNS IMAGINÁRIOS
10 JAN | Dom | 17h00
Le Paris des photographes
François Reichenbach | FR | 13 min. | 1962
O Conquistador Conquistado
Manoel de Oliveira | PT | 10 min. | 2012
Calendar
Atom Egoyan | ARM, CN, GR | 73 min. | 1993
17 JAN | Dom | 17h00
Sixty Six
Lewis Klahr | EUA | 90 min. | 2002-2015
24 JAN | Dom | 17h00
A caça revoluções
Margarida Rêgo | PT | 11 min. | 2013
Une minute pour une image
Agnès Varda | FR | 26 min. | 1983
Le souvenir d’un avenir
Chris Marker, Yannick Bellon | FR | 42 min. | 2001
VISÕES DA MORTE
31 JAN | Dom | 17h00
O Passado e o Presente
Manoel de Oliveira | PT | 116 min. | 1972
7 FEV FEB | Dom | 17h00
Cinza
Micael Espinha | PT | 10 min. | 2014
Benilde ou a Virgem-Mãe
Manoel de Oliveira | PT | 112 min. | 1975
14 FEV | Dom | 17h00
Rupture
Pierre Étaix, Jean-Claud Carrière | FR | 11 min. | 1961
Os Mortos
Gonçalo Robalo | PT | 30 min. | 2018
A Walsk with Nigel
Louis Henderson | UK | 22 min. | 2010
E, NO ENTANTO, MOVE-SE
21 FEV | Dom | 17h00
Rope
Gustztáv Hámos, Katja Pratschke | GR, HU | 28 min. | 2016
Sauve qui peut (la vie)
Jean-Luc Godard | FR, SW, GR, AU | 87 min. | 1980
28 FEV | Dom | 17h00
Somebody was trying to kill somebody else
Benjamin Verhoeven | GR | 7 min. | 2014
Blow Out
Brian de Palma | USA | 113 min. | 1981
MANOEL DE OLIVEIRA
DIREÇÃO DE FOTOGRAFIA: DA MONTAGEM À DURAÇÃO
7 MAR | Dom | 17h00
Douro, Faina Fluvial | Hulha Branca | Estátuas de Lisboa | Já Se Fabricam Automóveis em Portugal | Famalicão
PT | 67 min. | 1931-1940
14 MAR | Dom | 17h00
Aniki-Bóbó
PT | 68 min. | 1942
21 MAR | Dom | 17h00
O Pintor e a Cidade | Vilaverdinho – Uma Aldeia Transmontana
PT | 52 min. | 1956-1964
A Propósito da Inauguração de uma Estátua - Porto 1100 anos
Artur Moura, António Lopes Fernandes, Albino Baganha
PT | 30 min. | 1970
28 MAR| Dom | 17h00
O Pão | A Caça | As Pinturas do meu Irmão Júlio | Romance de Vila do Conde| O Poeta Doido, o Vitral e a Santa Morta
PT | 79 min. | 1964-2008
4 ABR | Dom | 17h00
Acto da Primavera
PT | 90 min. | 1963
VISITAS ORIENTADAS À EXPOSIÇÃO
- 25 OUT | DOM | 12H00 - António Preto
- 05 DEZ | SÁB | 17H00 - Maria do Carmo Séren
- 27 MAR | SÁB | 17H00 - Susana Lourenço Marques
CONFERÊNCIAS
- 18 NOV | QUA | 19h00 - Bernardo Pinto de Almeida
- 24 FEV | QUA | 19H00 - Emília Tavares
- 24 MAR | QUA | 19H00 - Sabine Lancelin