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Cultura de Borla

A Cultura que não tem preço.

Terras sem Sombra termina com Kurtág e "Fragmentos de Kafka" em Santiago do Cacém

 

 

 

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O Terras sem Sombra dá corpo a uma temporada musical, patrimonial e ambiental e situa o Alentejo no mapa da cultura europeia, como destino privilegiado de arte e natureza. “Hoje, pode dizer-se que o festival já conquistou um lugar ao Sol nos circuitos da vida artística europeia” faz questão de realçar José António Falcão, director-geral do Terras sem Sombra. "Para isto, tem contribuído uma proposta bastante original, que chama ao Alentejo, em cada ano, um país convidado. Este foi o ano da Hungria, sob a ideia de “aproximar o distante”, um pretexto para revisitar, em clave maior, o papel da tradição e da modernidade na música europeia, do século XVI ao século XXI.
Em 2018, o programa registou quase meia centena de actividades, todas gratuitas. 

 

No seio da criação actual

A igreja matriz de Santiago acolhe a 30 de Junho, sábado, às 21h30, o concerto de encerramento do festival, intitulado “Fragmentos Vitais: Kurtág e a sua Circunstância”. Uma peça fundamental da criação dos nossos dias, mas muito pouco escutada em Portugal, “Fragmentos de Kafka”, de György Kurtág, constitui o cerne de uma panorâmica da música contemporânea húngara que apresenta também obras de Béla Bartók, Péter Eötvös, Miklós Csemiczky, Gyula Fekete e Bella Máté, alguns dos compositores mais conhecidos desse país.

Para um programa tão abrangente, desloca-se de Budapeste um grupo de músicos de elite: a soprano Andrea Brassói-Jőrös, o violinista Máté Soós, o pianista Péter Kiss e o clarinetista Péter Szücs. Se a cantora triunfa já nos principais teatros de ópera da Europa central, os outros solistas são referências internacionais na interpretação da música dos séculos XX e XXI, com carreiras impressionantes. 

Outra presença a assinalar é a do compositor e maestro Gyula Fekete, autor de uma das mais recentes peças do repertório que se vai ouvir, “Csárdás”, inspirada numa famosa dança tradicional da Hungria, e vice-reitor da Academia Liszt.

 

Um oásis barroco e romântico: a Quinta de São João

A tarde do dia 30, a partir das 15h00, tem por alvo esta propriedade dos arredores de Santiago do Cacém, uma das mais belas quintas de recreio do litoral alentejano. Situa-se nos Escatelares, zona famosa pela abundância de água, o que levou a ser escolhida, no século XVIII, como assento de quintas pertencentes à aristocracia local. Sobressai, pela imponência do conjunto edificado e pela riqueza natural, a propriedade alterna jardins, ruas arborizadas, hortos, pomares e mata. Não faltam também árvores raras, algumas oriundas do Extremo Oriente. A visita é guiada por Gonçalo Nunes da Silva, um dos proprietários, e pelo arquitecto Francisco Lobo de Vasconcellos.

 

Recuperar a memória da Judiaria de Santiago ao Cacém 

Na manhã de 1 de Julho, às 9h30, o Terras sem Sombra acompanha o escritor e psicanalista argentino Arnoldo Liberman numa visita à antiga Judiaria, em pleno centro histórico de Santiago do Cacém. O acto constitui uma chamada de atenção para a memória do bairro judeu, desaparecido no século XVII, quando a sua comunidade, perseguida pela Inquisição de Évora, se dispersou. 

O montado do Loreto, repositório de biodiversidade

Do coração da cidade, os voluntários do festival dirigem-se à Herdade do Loreto, com os olhos postos no seu montado de sobro. Esta mata, comprada em 1515 pelos frades do convento franciscano de Nossa Senhora do Loreto, foi por eles beneficiada, ao longo de séculos, como fonte de sustento e espaço de meditação e oração. O convento, extinto em 1834, acabou por ficar ao abandono, mas o sobreiral permanece um tesouro de biodiversidade.

 A acção é guiada por José Mira Potes (engenheiro zootécnico), Dinis Cortes (médico) e Luís Salvador (biólogo), com a colaboração de Ana Vidal (arquitecta paisagista).

As iniciativas do Terras sem Sombra, de acesso livre, são organizadas pela Pedra Angular, em parceria com o Município de Santiago do Cacém.