Vídeo-instalação "em busca de Averróis" de João Cristóvão Leitão, de 28 de Setembro a 2 de Outubro, na Galeria Appleton em Lisboa
em busca de Averróis
Vídeo-instalação de João Cristóvão Leitão
28 DE SETEMBRO – 2 DE OUTUBRO
GALERIA APPLETON, LISBOA
SINOPSE
Imagens do arquivo de família de João Cristóvão Leitão lembram-lhe um texto de Borges. Pouco a pouco, transforma Averróis no seu avô, o seu avô em Borges e Borges em si (João). Neste movimento, torna-se cada vez mais difícil olhar para qualquer um deles sem, também, entrever todos os outros.
DESCRIÇÃO
A presente vídeo-instalação nasce do encontro de João Cristóvão Leitão com imagens do seu arquivo de família. Nele, inúmeras imagens revelam a copresença da criança que foi com um indivíduo que mal chegou a conhecer: o seu avô Aníbal. Ao olhar estes fragmentos de realidade, apercebe-se de que, por mais esforços que faça, é incapaz de lembrar a textura da sua voz. É, então e no repetir deste exercício de resgate invariavelmente fracassado, que descobre, não sem alguma melancolia, que poucas ou nenhumas são as memórias – pessoais, directas e não mediadas – que guarda deste homem, ao qual, segundo lhe dizem, muito se assemelha. Não obstante, quanto maior é a consciência da sua ignorância em relação a este incógnito sujeito, maior é a vontade que em si surge de o tornar familiar e íntimo; maior é a vontade que em si surge de tornar esta figura o centro de toda uma investigação artística.
É diante deste paradoxo – o do querer aceder a algo que, à partida, se encontra vedado a quem o procura – que se lembra de Borges e do seu conto A Busca de Averróis (1947). Nele é narrado o momento em que o estudioso árabe muçulmano que cede nome à narrativa borguesiana (1126-1198) – movido pela intenção de comentar a produção literária de Aristóteles – se depara com uma contrariedade filológica impossível de ser ignorada:
A pena corria sobre a folha, os argumentos enlaçavam-se, mas uma leve preocupação toldou a felicidade de Averróis. [...] Na véspera, duas palavras duvidosas o detiveram no princípio da Poética. Essas palavras eram tragédia e comédia. [...] ninguém, no âmbito do Islão, atinava com o que queriam dizer.
(Borges, 1947: 603 e 604)
Importa referir que a perplexidade sentida por Averróis perante a dificuldade em traduzir tais palavras para o seu idioma, o árabe, foi, historicamente, um facto e não um mero artifício diegético fruto da imaginação de Borges. No entanto, é esta circunstância real que serve de mote não só para, no decorrer da narrativa borguesiana e através dela, se indagar sobre a (im)possibilidade de a essência das coisas poder ser conhecida, mas também para se problematizar essa mesma (im)possibilidade mediante o estabelecer de relações entre a demanda protagonizada por Averróis (o real?, o ficcional?, ambos?) e aquela que é encetada por João Cristóvão Leitão.
Se Averróis procura conhecer Aristóteles através das palavras, João Cristóvão Leitão procura conhecer Aníbal Cristóvão através de imagens. Se Averróis procura traduzir um homem de quem o separam 14 séculos, João procura traduzir um homem de quem o separam umas quantas décadas. Se Averróis procura recuperar o significado de termos que remetem para práticas artísticas miméticas que eram, à data, estranhas ao mundo muçulmano, João procura recuperar aquilo que as imagens para as quais olha não têm como revelar.
Assim sendo, será Averróis – e, por extensão, o próprio João – capaz de cumprir a tarefa a que se propõe? Será a sua tarefa – e, por extensão, a tarefa de João – exequível? Ou validará Averróis – e, por extensão, todo e qualquer tradutor (seja ele um tradutor de palavras ou, como no seu caso, um tradutor de imagens) – o provérbio italiano Traduttore, Traditor? Talvez ambas as demandas – porque exigem o estilhaçar anacrónico da linearidade temporal que deu origem àquilo que procuram – se encontrem, ontologicamente, fadadas ao fracasso. Porém, “[...] para se estar livre de um erro, acrescentemos, convém tê-lo praticado” (Borges, 1947: 607). Por isso, João toma a liberdade de, pouco a pouco, ir transformando Averróis no seu avô, o seu avô em Borges e Borges em João, preferindo acreditar que é através do erro e da falha que nos aproximamos da essência das coisas; porventura não exactamente da das que procuramos, mas da de outras que, talvez, não soubéssemos que procurávamos.
BIOGRAFIA JOÃO CRISTÓVÃO LEITÃO
Licenciado em Teatro – Dramaturgia (ESTC), mestre em Arte Multimédia – Audiovisuais (FBAUL) e pós-graduado em Curadoria de Arte (FCSH). Actualmente, é doutorando na FBAUL.
Enquanto criador, funda o colectivo performativo 3.14 (2010-2012) e colabora, desde 2012, com o colectivo SillySeason. Desenvolve projectos instalativos e de vídeo arte, os quais foram exibidos a nível internacional (Áustria, Brasil, Coreia do Sul, Espanha, França, Inglaterra, Irlanda, Itália, Peru, Portugal e Sérvia) e premiados (Menção Especial VIDEOFORMES – 3è festival international d’arts numériques; Prémio do Público – FUSO: Anual de Vídeo Arte Internacional de Lisboa; Prémio do Júri/Aquisição FUSO – Fundação EDP; Prémio Jovem Realizador – Fundação INATEL; Grande Prémio LOOPS.LISBOA/TDI/Museu Nacional de Arte Contemporânea). É representado pela plataforma Heure Exquise: Centre International pour les Arts Vidéo. Colabora com: Rabbit Hole (2014), Magma Collective (2014), Marta Ribeiro/VIDEOLOTION (2015-2017), Elmano Sancho (2015), Ana Jezabel e António Torres (2017), Daniel Gorjão/Teatro do Vão (2017), João Pedro Fonseca (2017), Rodrigo Pereira (2018), Diego Bragà (2020) e Rodrigo Teixeira (2021).
LINKS
https://joaocristovaoleitao.com
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https://www.instagram.com/joao_cristovao_leitao/
FICHA TÉCNICA
CONCEPÇÃO & DIRECÇÃO ARTÍSTICA
João Cristóvão Leitão
TEXTOS (A PARTIR DE)
Jorge Luis Borges
PRODUÇÃO
Marta Sousa Ribeiro
APOIO À CRIAÇÃO
André Silva Santos e João Estevens
IMAGEM
João Cristóvão Leitão, Marta Sousa Ribeiro, Miguel Leitão
MONTAGEM
João Cristóvão Leitão
ASSISTÊNCIA DE MONTAGEM
Miguel Leitão
CAPTAÇÃO DE VOZ-OFF & MISTURA DE SOM
Francisco Duque (Estúdio Camaleão)
SONOPLASTIA
João M. Santos
PÓS-PRODUÇÃO DE IMAGEM E VFX
Miguel Leitão
GRAFISMO
Marta Sousa Ribeiro
ASSESSORIA DE IMPRENSA
Raquel Lains
GESTÃO FINANCEIRA
Teatro do Vão
APOIOS
Appleton, Centro de Inovação da Mouraria – Câmara Municipal de Lisboa, Centro Nacional de Cultura, Estúdio Camaleão, Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, República Portuguesa – Cultura/Direcção Geral das Artes e VIDEOLOTION